domingo, 12 de julho de 2009

CASSANDRA

Num sábado de oração na Sinagoga grande, o rabino disse

«O milagre não é uma laranja tornar-se cúbica, o milagre é as laranjas já serem esféricas»

Nada era melhor do que aquela pedra.

Algumas horas. Devia fazer isso com todas as coisas.

Às vezes não é preciso tanto tempo, 12 minutos a olhar para um semáforo avariado e torto e já nada é mais bonito do que um semáforo a cair!



A cidade está cheia de medo.

Nestes dias antes da tua morte, a cidade ficou cheia de medo de nós.

Os muros pareciam precisar de ajuda

Os prédios não conseguiam suportar mais os seus habitantes.



Fez-se um silêncio pleno …

Um silêncio Grande,

Como quando dez mil camiões buzinam ao mesmo tempo.



Tanta calma … Percebemos logo Tudo.

Aprender num dia mais do que no anterior

Como a minha mãe me disse, ou foi o meu filho?

O tumor está a alastrar-se a toda a cabeça! – Gritou alguém ao megafone.

Cassandra!

Está tudo a correr bem!

As laranjas são redondas ainda. Tudo é tão leve…



Queria tanto beber do teu leite.

Tu empurravas-me a cabeça e rias-te.

Acendias um cigarro.

O teu corpo era a minha casa.



Quero abraçar todos os homens e mulheres.

O Abraço supremo que abarca toda a humanidade com os braços grandes de uma mãe.

Os cantores de que tu gostavas estão agora mais vivos.

As canções na rádio sabem a leite estragado.

Calma, foi apenas o fim do mundo.

Tudo o resto continua……….



O carro funerário ia muito devagar

Foi tudo tão alegre … Uma alegria Aguda

Que entrava dentro de nós

Como uma viga de ferro a cair-nos na cabeça

Uma felicidade sufocante que ecoava pelo Universo naquele sábado de sol

Cassandra

Só um som ou uma ideia

Só uma PALAVRA




Nuno Brito

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Para sempre

Reformulo a sentença de antónio lobo:
eu hei-de amar o sítio de onde saiu esta pedra

Ao trespassar uma igreja da raia o calcário adverte:
paraíso para sempre, inferno para sempre
e só a palavra paraíso me assusta


Tu assustas-me

Nem precisamos de cambiar a paisagem
para imaginar que as nossas pernas se movem e
somos perfeitos como Michael e Apollonia



Luís Brito Pedroso