segunda-feira, 1 de abril de 2013

O Poeta Tímido




Fernando Pessoa e os seus heterónimos,
em pregadeira,
para poder andar ao peito,
com a liberdade de um cravo
e a (e)terna imensidão de uma rosa de Santa Teresinha.

Os seus heterónimos ainda não estarão todos descobertos.
O meu preferido é Maria José,
o único heterónimo feminino
do qual, até à data, se tem conhecimento.

Esta pregadeira materializa parte das emoções que Pessoa me suscita.
Talvez a substância se auto-explique
: a pintura na base da medalha de bronze é da autoria de Almada Negreiros;
em seu redor, na "Porcelana Rusa Blanca", encontramos Quartzo Rosa, Jaspe, Citrino,
Olho-de-tigre, Coral, Hematite e pequenos búzios da "minha" praia...


Fernando Pessoa is a Portuguese poet, 
(born on the 13th July 1888, never to die).
His message is still present in our everyday's life, even in small sentences such as

In Portuguese, however, it rhymes... See? 
: "Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena." 

Maybe you could learn Portuguese in order to reach our message even deeper...

Pessoa (meaning Person) believed in the power of the Word and that redemption for Portugal is possible.
According to him, Portugal's message for the World is Peace; and this is a message that cannot be lost.
It is just a matter of Time... Time being Now.


PORTUGUESE SEA

Oh salty sea, so much of your salt
Is tears of Portugal!
Because we crossed you, so many mothers wept,
So many sons prayed in vain!
So many brides remained unmarried
That you might be ours, oh sea!

Was it worthwhile? All is worthwhile
When the spirit is not small.
He who wants to go beyond the Cape
Has to go beyond pain.
God to the sea peril and abyss has given
But it was in it that He mirrored heaven.


By Fernando Pessoa
(translator unknown)


Obrigada! Bem-haja... 


quarta-feira, 20 de março de 2013

Coro das Pedras


Nós pedras
Quando alguém nos ergue
Ergue tempos primevos - 
Quando alguém nos ergue
Ergue o Jardim do Éden - 
Quando alguém nos ergue
Ergue o reconhecimento de Adão e Eva
E a sedução, que come pó, da Serpente.

Quando alguém nos ergue
Ergue biliões de lembranças na mão
Que não se dissolvem no sangue
Como o anoitecer.
Pois nós somos monumentos mortuários
Que abrangem todo o morrer.

Um surrão cheio de vida vivida somos nós.
Quem nos ergue, ergue as campas endurecidas da Terra.
Ó cabeças de Jacob,
As raízes dos sonhos mantemo-las nós escondidas pra vós,
Deixamos as aéreas escadas dos anjos
Brotar como braços dum canteiro de trepadeiras.

Quando alguém nos toca
Toca um muro de lamentações.
Como o diamante o vosso lamento corta a nossa dureza
Até que ela cai e se faz coração brando - 
Enquanto vós empedernis.
Quando alguém nos toca
Toca as encruzilhadas da meia-noite
Ressoantes de nascimento e morte.

Quando alguém nos atira - 
Atira o Jardim do Éden - 
O vinho das estrelas -
Os olhos dos amantes e toda a traição -

Quando alguém nos atira com ira
Atira leões de corações partidos
E de borboletas de seda.

Cuidado, cuidado
Não atireis com uma pedra em ira - 
A nossa mistura está repassada de espírito.
Endureceu no mistério
Mas pode acordar com um beijo.



Nelly Sachs (trad. Paulo Quintela)